domingo, 4 de julho de 2010

Tête-à-Tête: mundos distintos.

"Beauvoir vinha de um mundo em que as mulheres eram excessivamente protegidas e reprimidas. Como mostraria em Memórias de uma Moça Bem-comportada, homens e mulheres habitavam mundos nitidamente distintos.
As mulheres não votavam.
As melhores instituições educacionais da França eram exclusivamente para homens.
As mulheres deviam ir à igreja; os homens podiam ser ateus.
As mulheres nunca entravam em bares, sequer em cafés. (Quando Beauvoir pôs os pés num café pela primeira vez na vida, aos vinte anos, considerou-se de uma rebeldia selvagem). Os homens bebiam e fumavam em público; as mulheres, não.
As mulheres permaneciam virgens até o casamento; os homens não.
As mulheres que não casavam inspiravam pena.
E mesmo sendo bonita e culta, só com um dote substancial podia aspirar a um casamento desejável.

Às vezes, Beauvoir chamava sua rebeldia solitária de "uma embriaguez". Mas tinha consciência de que precisaria de uma força extraordinária. "Eu gostaria muito de ter o direito, eu também, de ser simples e muito fraca, de ser mulher", confessou no diário. "Em que 'mundo deserto' eu caminho, tão árido, só tendo o oásis de minha auto-estima intermitente."

Sentia que, para as mulheres, o amor tinha um custo, e que havia uma parte dela que provavelmente nenhum homem jamais aceitaria. "Falo do amor de forma mística, sei o preço", diz ela. "Sou muito inteligente, muito exigente e muito engenhosa para alguém ser capaz de se encarregar completamente de mim. Ninguém me conhece nem me ama completamente. Só tenho a mim." "

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