domingo, 11 de julho de 2010

Tête-à-Tête: "A mulher apaixonada"


"A princípio, exultara por ter se apaixonado por um homem que considerava superior a ela. Agora, começava a perceber os perigos. O homem que era considerado o mais inteligente da safra de jovens inteligentes de seu ano na Ecole Normale tinha um firme noção de seu gênio. (...)
A sociabilidade e a generosidade de Sartre eram lendárias. Engraçado, brincalhão, criativo e brilhante imitador, fazia as pessoas chorarem de rir. Adorava ajudar e encorajar os outros, e gotava de dar presentes. Mas, apesar de seu calor humano e de seu espírito gregário, possuía uma auto-suficiência desconcertante. Gostava de gente em volta, do burburinho de vozes ao fundo. Precisava ter uma mulher apaixonada por ele, e também gostava de sentir-se indispensável a essa mulher, embora pudesse reclamar disso. Mas, contanto que fosse capaz de se sentir amado, era mais feliz quando estava sozinho com sua caneta, seus papéis e seus livros.
Os amigos regularmente o acusavam de indiferença. Suas namoradas, a princípio, se deleitavam com suas atenções, depois reclamavam que não lhes dava o suficiente de seu precioso tempo. Ficam possessivas e ciumentas, e Sartre resmungava que elas eram exigentes demais. Era o padrão da vida dele.
Beauvoir não gostava de reclamar. Desde o início do relacionamento, fazia um esforço imenso para ver as coisas pela ótica de Sartre, em parte, porque achava que lhe devia tudo, e também porque estava convencida de que o amava mais do que ele a amava.
(...)
Tudo consipirava para fazê-la cair numa armadilha que ela descreveria 20 anos mais tarde em O Segundo Sexo. Havia um capítulo sobre 'a mulher apaixonada', uma mulher para quem o amor é uma fé, que passa a vida esperando, que abandona sua vida, até seu juízo, por seu homem."

"A mulher apaixonada tenta ver com os olhos dele; lê os livros que ele lê, dá preferência à música que ele prefere; só se interessa pelas paisagens que vê com ele, nas ideias que vêm dele; adota as amizades, as inimizades, as opiniões dele; quando se questiona, é a resposta dele que tenta ouvir (...) A suprema felicidade da mulher apaixonada é ser reconhecida pelo homem amado como parte dele; quando ele diz 'nós', ela está associada e identificada com ele, compartilha do seu prestígio e reina com ele o resto do mundo: nunca se cansa de repetir - até ao exagero - esse deleitável 'nós'. " (Simone de Beauvoir,[ The second sex], trad. H.M. Parshley, 1953, p.653)



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