quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Tête-à-Tête: Contrato baseado "na verdade, não na paixão"


"Collete Audry era colega de Beauvoir no Lyceé Jeanne d'Arc em Rouen. Nizan a conhecia de rodas comunistas, e falara carinhosamente dela com Beauvoir. A princípio, Audry não simpatizou com a parisiense animada que foi a ela na sala dos professores e se apresentou. Achou Beauvoir muito burguesa a não ser pela fala acelerada, que não era nada burguesa. Beauvoir passou semanas intimidada com aquela jovem segura que circulava de chapéu de feltro, calças sob medida e casaco de couro, e parecia sempre estar a caminho de uma reunião política. Audry era uma trotskista engajada: Beauvoir não sabia nada de política. Audry decorara seu apartamento com carinho. Beauvoir basicamente acampava em seu quarto do Hotel La Rochefoucauld. Mas em pouco tempo, as duas já estavam almoçando regularmente na Brasserie Paul, e arrematando com uma partida de bilhar russo nos fundos, entre os homens, antes de saírem para preparar as aulas do dia seguinte.

Como mais tarde disse Audry, ela gostava da companhia de Beauvoir, de sua alegria e da ferocidade com que amava ou desprezava as pessoas. Parecia a Audry que a coragem e a determinação de Beauvoir não tinham limites. Beauvoir jogara fora um romance e embarcara bravamente em outro. Audry não tinha dúvidas de que sua amiga um dia seria uma autora publicada.

Quando Sartre ia a Rouen, às vezes saíam os três. "Logo nós três estávamos trocando ideias tão depressa que às vezes eu ficava com a cabeça rodando", lembra Audry. Beauvoir explicara que ela e Sartre tinham um contrato baseado "na verdade, não na paixão", mas Audry via a ternura entre eles, bem como as centelhas intelectuais. "A relação deles era um tipo novo, e eu nunca vira nada parecido. Não posso descrever o que era estar presente quando aqueles dois estavam juntos. Era tão intenso que às vezes deixava quem via triste por não ter aquilo". "

(pag 71)

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