domingo, 4 de julho de 2010

Tête-à-Tête: Voz rouca....


"As amizades de Beauvoir sempre foram excepcionalmente formais. Mesmo com sua melhor amiga, Zaza, que conhecia desde os 10 anos, usava o formal vous em vez do informal tu. (...)
Graças a Maheu, Beauvoir passou a ter uma consciência de seu corpo que nunca tivera antes. Ele punha a mão em seu braço e balançava o dedo na cara dela de forma debochada. Comentava sobre sua aparência, suas roupas, sua voz rouca. Achava sua rouquidão muito atraente, assegurava-lhe. Beauvoir nunca havia pensado em sua voz antes.
"Minha maior felicidade é Maheu", diz ela no diário.
Era também sua maior fonte de angústia. Quando se despediam no fim do dia, ela ficava triste. Ele ia para casa encontrar a esposa. Raramente falavam da vida pessoal dele, mas ele lhe contara que Inès era cinco anos mais velha e representava todos os mistérios e paradoxos da feminilidade. Ele a amava. Ela era bonita. (...)
Às vezes, Beauvoir achava Maheu desapontadoramente convencional, particularmente quando se tratava de mulheres Ele admitia ter uma certa resistência a mulheres inteligentes. Quando Beauvoir lhe contou sobre seu relacionamento atormentado com o primo Jacques, Maheu disse achar que ela deveria se casar com ele. A sociedade não respeitava as mulheres solteiras. Beauvoir emprestou-lhe um romance inglês recente que apreciara - The Green Hat, de Michael Arlen. Admirava a heroína independente, Iris Storm Maheu não.
- Não gosto de mulheres fáceis - disse-lhe. - Por mais que eu goste que uma mulher me agrade, acho impossível respeitar qualquer mulher que eu já tenha tido.
Beauvoir ficou indignada.
- Ninguém tem uma Iris Storm."

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