quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Tête-à-Tête: Olga Kosakiewicz

"Um dia, após um teste em sala de aula, Olga caiu em prantos. Estava ficando óbvio que a moça era muito tímida, sem confiança nas próprias habilidades. Beauvoir sugeriu que se encontrassem na Brasserie Victor no domingo seguinte. Conversaram muito. Olga era inteligente e articulada, mas parecia bastante perplexa e perdida na vida. Beauvoir teve certeza de que poderia ajudá-la.

Ajudou, e Olga acabou saindo-se bem no bacharelado, particularmente em filosofia. Antes que se separassem nas férias de verão, as duas passaram muitas noites juntas, jogando xadrez e tênis de mesa, fazendo caminhadas, frequentando cafés e ouvindo música. Olga não sabia o que queria fazer da vida. Adorava ler, e manejava a língua com facilidade. Beauvoir lhe emprestava livros (Stendhal, Proust e Baudelaire) e encorajava-a a escrever. Olga começou alguns poemas em prosa.

No verão de 1934, Olga voltou para casa da família em Laigle, uma pequena cidade na Normandia, enquanto Beauvoir passou as férias na Alemanha, depois em Creta, com Sartre. Em sua primeira carta para ela, Beauvoir pedia a Olga que não mais a chamasse de "Mademoiselle". "Você já tem muita intimidade comigo para esta palavra continuar sendo adequada." Acrescentou: "Estou profundamente ligada a você, mas não sabia até que ponto até você partir. Sinto sua falta, quase dolorosamente. Não só você é uma das pessoas mais admiráveis que conheço, mas também é uma dessas pessoas que enriquecem a existência de quem a cerca, e que deixam um grande vazio atrás delas." Beauvoir escreveu várias vezes a Olga naquele verão, encorajando-a a aproveitar sua nova independência. ("Pode ser maravilhoso, algumas noites, estar num café de província, uma mulher sozinha, comendo ovos estrelados e ouvindo música ruim. Um dia, você conhecerá esses prazeres. Estou impaciente para que os experimente.") Olga começava a escrever a Beauvoir, depois rasgava as cartas.

"Por que rasgar cartas?", perguntou Beauvoir em agosto. "Quero que saiba que não há uma de suas expressões faciais, um de seus sentimentos e um incidente de sua vida com que eu não me importe. Pode estar certa de que, quando você se senta para comer, há alguém que estaria interessadíssimo em saber que tipo de sopa está comendo. Naturalmente, esse alguém adoraria receber cartas longas e detalhadas. "

Um comentário:

  1. ah...cartas rasgadas,versos queimados e jogados ao vento...às vezes é assim até ter "espaço" pra guardar aquilo que caiu no papel...

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